terça-feira, 4 de setembro de 2007

Premonição


Francisco Antônio Domingos, o meu amigo Totiá, por que eu tenho o maior carinho, respeito e admiração, há de não se afoguear com essa estória que contarei sobre ele. Pois bem, durante anos a fio estudamos na mesma sala e praticamente com a mesma turma. Desde a quarta série primária com Dona Alda de Cotia, da quinta série com Cacilda Araújo, no Duque de Caxias e durante os quatro anos de ginásio na Escola Estadual José Olavo do Vale, que saiu do Duque de Caxias, foi para o Donana Avelino e terminou no prédio onde se encontra até hoje.
Pois bem, da calçada de trás do Duque de Caxias, dava para se ver a paisagem maravilhosa da maré de Macau. No final das aulas, sempre que a maré estava cheia lá ia a turma de meninos tomar banho na maré. Aí era aquele alvoroço. Pulos, gritos, caldos, dedadas, opas! Mas foi nesse cenário memorial que aconteceu um fato um tanto inusitado. Mas abrirei um parêntese para narrar um pequeno fato que nos faz rir até hoje. Dona Isabel, mãe de Totiá, sabendo das peripécias do seu filhote e demais amigos tratou logo de dar um jeito nessa estória. (Escrevo estória com “e” mas é a pura verdade.) Comunicou a várias mães o ocorrido e disse que ia pegar Totiá e da-lhe uma boa surra se ele continuasse tomando banho na maré. Mas, isso não tinha jeito. Sempre se arrumava uma escapatória. Todos tomavam banhos só de calção, previamente levado escondido, e depois tocávamos e íamos para casa com a farda do duque, camisa branca e calça caqui, totalmente enxutas, dávamos um tempo pra enxugar os cabelos e pronto. Dona Isabel que não era besta nem nada e muito desconfiada disse:
- Francisco você estava tomando banho na maré, não tava?
- Tava não mamãe, olhe as minhas roupas estão enxutas.
Então Dona Isabel, pegava no braço de Totiá e passava a língua, e prontamente, sentia o gosto da água salgada e dizia muito brava:
- Tá vendo seu cabrito você esta com gosto de água salgada – E tome peia em Totiá, e para o nosso desespero, Dona Isabel orientou todas as mães a fazer o mesmo. E foi um Deus nos acuda.
Mas teve outro caso envolvendo Totiá que foi mais hilário. Depois da aula olhamos a maré e aos gritos dissemos:
- Olhem a maré está cheia, vamos?
- Vamos ! Gritavam todos alegremente.
Nisso saímos todos correndo e chegando na rampa do Matarazo, tirávamos as roupas para o primeiro pulo. Totiá mais afoito, não reparou que a maré não estava tão cheia como aparentava e pulou de cabeça. A lamina dágua estava apenas uns quarenta centímetros de altura e Totiá, para o nosso desespero ficou de cabeça enterrado na lama, com as perninhas finas e brancas estrebuchando fora dágua. Foi uma gritaria que Deus nos livre. Nisso, Fernando de Elita e outro menino que eu não me lembro o nome, pulou na maré e puxou Totiá que aos gritos e choros estava parecendo um picolé de leite e chocolate. Metade branco e metade preto. Parece que ele tomou jeito e passou a ter cuidado nos pulos, mas o banho da maré, parece que ainda hoje ele toma.
Então foi! Acho que por gostar tanto de maré que Totiá especializou-se em estudos marinhos. É a sua formação. Muito competente por sinal.