segunda-feira, 7 de abril de 2008

A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO


Amigos,

O artigo "A decadência do Império" já tem vida própria, vez que já é do domínio público, publicado no vespertino O Jornal de Hoje, no dia 5/6 de abril/2008.

Renan


O ser humano parece vezeiro no comodismo. Limitando-se ao estreito de um único pensamento, se impede de ver ângulos que a visão ampliada requer. Ao acaso, sem mais nem menos, dificilmente se conquista prosperidade. Aquilo que é dever de cada um, por cada um deve ser feito. As boas conquistas vêm de planos executados. Para ganhar na loteria esportiva, sem ser anão de orçamento ou estelionatário, por exemplo, que fazer? Respondo. Decidir jogar, escolher o caminho abençoado e habilitar o cupom da aposta ou palpite lotérico. Valorizar a informação, ter em conta o que aconteceu com as equipes ultimamente. Ouvir o eco da realidade, fazer juízo de probabilidades e não esquecer que o êxito pode estar camuflado no imprevisto da zebra. Quem busca decifrar enigma é porque tem fé. O leitor sabe, no jogo de azar que é a loteca, além do acerto na escolha e do respeito à lógica, tem-se ainda que contar com a sorte.
Em relação ao embate com outras forças, bonito é vencer disputa de igual para igual. Essa façanha, em escala de grandeza, vem logo abaixo da fenomênica vitória obtida quando em objetiva desvantagem. Fora do episódio bíblico de Davi contra Golias, é improvável um nanico vencer um gigante. Mas, caro leitor, observe, na contemporaneidade, temos visto milagres acontecerem. Veja o hediondo e odiento confronto bélico imposto pelos Estados Unidos da América ao Vietnã do Norte, de 1964 a 1975. Economia vietnamita destroçada, cidades arrasadas, aldeias incendiadas, campesinas estupradas, chacinas de centenas de crianças, adultos e idosos, de uma vez só. Horrível. Depois de morrerem mais de cinqüenta mil militares ianques e mais ou menos dois milhões de nativos o conflito findou com a expulsão do exército invasor. A derrota imperial vergonhosa e humilhante evidenciou o líder vietcong Ho Chi Minh. Ainda assim as autoridades do país do cantor e compositor Bob Dylan não assimilaram a lição.
Em levante anti-guerra, a juventude estadunidense protestou contra seus governantes brancos, limpos, sem barba e bem vestidos. As “crianças das flores” protagonizaram o Movimento Paz e Amor e a Contracultura. Surgiu então o andarilho hippie, sem pressa, sujo, cabelo longo, despenteado, barbado, vestindo brim, calçando sandália e fugindo do serviço militar. Praticando o comunitarismo, confeccionava e vendia pulseira, brinco, anel, colar e engenhosas maricas. A atitude excêntrica e libertina, regada a maconha, ácido e anfetamina, propunha amor livre, negação do casamento e culto ao rock. O Festival de Woodstock, na Nova York de 1969, foi retumbante demonstração da decepção dos jovens com os seus homens de negócios. Nas comunidades afro-descendentes surgiram os Panteras Negras, audaciosa organização de auto-defesa ante à brutalidade policial. Nos bancos universitários norte-americanos, a rebeldia juvenil fortaleceu-se nas teses do filósofo judeu alemão Herbert Marcuse, que disse não ser pessoa de deixar mensagens em garrafas..., desqualificou a manipulação, defendendo que a imaginação poderia chegar ao poder pela irrupção da revolução inesperada.
Idéias de prática imediata puseram os estudantes na vanguarda da transformação social. A rebelião estudantil irradiou-se pela França, Itália, Alemanha, México e Brasil, realçando feministas e ecologistas. Martin Luther king, negro estadunidense, pastor da Igreja Batista e ativista por direitos civis, Prêmio Nobel da Paz em 1964, foi assassinado quando disputava o cargo de Presidente da República, com um tiro na cabeça, em 04 de abril de 1968. Presidente dos Estados Unidos após John Kennedy ser assassinado, Lindon Johnson caiu em desgraça política, desistindo de disputar a reeleição. Caro amigo leitor, veja um Império em decadência e seu rastro de sangue.
Enquanto isso, em Macau, vovó Querubina Solino de Araújo, ex-primeira dama do município, não perdia a esperança no futuro. Tentando ganhar algum tostão no jogo do bicho, amainava o estresse causado pela ditadura brasileira. Quando via um abacaxi, jogava no sete, carneiro; se sonhava com um rebanho, o palpite era o um, o avestruz. Vez ganhava, vez perdia. Tranqüila e de bom humor, a simples Querubina lecionou o ganha quem sabe perder e o perde quem não sabe ganhar. Neste momento, estou aqui pensando na irreverência de Cazuza, que estaria completando 50 anos.

Renan Ribeiro de Araújo – Advogado