sexta-feira, 11 de abril de 2008

O QUE A DISTÂNCIA PODE FAZER


Durante algum tempo, experimentei ficar vivendo em um lugar distante do meu, mesmo estando próximo. Senti que mudamos sem deixar de ser o que sempre fomos, eu e meu lugar. Aliás, o que eu era (e não sou mais) está cada vez mais forte dentro de mim, ocupando um lugar diferente mas, sempre lá, dentro de mim. Enquanto ele, continua o mesmo e nunca mais será igual.
Tenho a impressão de que estou refratária... Tudo são apenas impressões e nenhuma concretude ou certeza. Talvez minha sensibilidade e meu olhar tenham mudado. Parecem mais aguçados, mais atentos e, principalmente, mais disponíveis para sentir e olhar a tudo ao meu redor.

Por outro lado, eu olho o mesmo do passado e, no presente, não consigo mais vê-lo somente. Será que adquiri a capacidade de ver um pouco além ou mais ao meu redor? Não sei ... De qualquer maneira, o que importa aos outros saber de meus sentimentos e de sensações tão íntimas? Talvez nada. A mim, não importa saber que eles saibam.

Precaução!!! Ainda é tempo de manter a distância? Não por obrigação, mas talvez por necessidade. Sinto que estou mais vulnerável e a vulnerabilidade me é estranha. Estou vulnerável à minha sensibilidade e ao meu olhar mas, apesar disso e ainda bem que é assim, sinto um grande bem estar por estar vivendo. Estou em paz comigo, com meu passado e com meu presente. Estou em paz... com meu olhar.

Giovana
(o mote do texto foi escrito em agosto de 2006 e o mesmo continua incrivelmente atual, por isso reescrito e adaptado em abril de 2008)
Abaixo a transcrição de um trecho de um livro que todos deveriam ler, cuja referência é PIRANDELLO, Luigi. Um, nenhum e cem mil. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.

No livro, o autor diz na página 93:
"Sempre nos parece que os outros estão enganados, que uma dada forma ou um dado ato não é exatamente isto ou não é assim. Mas, inevitavelmente, pouco depois, se nos deslocamos um pouco de nossa posição, nos damos conta de que nós também nos enganamos, de que não é isto e não é assim. De modo que, ao final, somos constrangidos a reconhecer que não será nunca nem isto nem assim, de nenhum modo estável ou seguro, mas ora de um modo, ora de outro, e todos a um certo ponto nos parecerão equivocados, ou todos corretos, o que dá no mesmo, porque uma realidade não foi feita e não é, devemos fazê-la nós mesmos, se quisermos ser; e jamais será una para todos, una para sempre, mas infinita e continuamente mutável. A capacidade de nos iludirmos de que a realidade de hoje é a única verdadeira, se de um lado nos ampara, de outro nos precipita num vazio sem fim, porque a realidade de hoje está fadada a se revelar a ilusão de amanhã. E a vida não se ajusta. Não se pode ajustar. Se amanhã se ajustar, estará acabada".