segunda-feira, 28 de abril de 2008

CHUVA



Giovana,

Esse texto é como um acalanto, como para mim a chuva sempre foi: um carinho no coração. Compartilho com você esse olhar sobre a chuva. Lembro que, criança, em férias na casa de minha avó Chiquinha Batista, em Canafístula (pra nós era “Canafista” mesmo), observava maravilhada, do alto da calçada de pedra, o movimento das águas, durante e após as chuvaradas, fazendo desenhos abstratos na terra vermelha em frente ao curral das vacas. Enquanto isso, o cheiro dos velames misturava-se ao inenarrável cheiro da terra molhada, que, no fim, é o “cheiro de chuva” mesmo, entranhado na minha memória para sempre. Era um poema de Jorge Fernandes e eu não sabia ainda. Os banhos de chuva em Macau eram especiais, talvez pela escassez da água em passado tão recente (quantas vezes não tomamos banho com a água do poço da Marechal, carregada nas roladeiras? Os cabelos ficavam horríveis!). Me encanta tanto a chuva, que, para mim, dia bonito é dia de chuva. Não tem sol de verão que me deixe mais feliz do que o horizonte nublado, a chuva fininha e uma rede na varanda. Em noites de chuva forte, desligar ventilador e ar-condicionado só para poder ouvir o barulhinho da água caindo no teto é garantia de bons sonhos. Um dia desses – que já faz alguns anos - tive mais uma prova de que “filho de peixe...”: Estávamos em Fortaleza, numa semana santa, eu, Renan, Maíra e Sarah, e esta, acordando antes de todos, abre as cortinas e exclama “que dia lindo!” Fomos à janela e não deu outra: o sol estava de férias, coberto de nuvens. E uma chuva marota começava a cair.

Abraços. Sheila