segunda-feira, 31 de março de 2008

ANIVERSÁRIO DE DONA NAIR


No último dia 15 de março comemoramos o aniversário de 80 anos da minha mãe, Dona Nair de Victor Maná e os meus 45 carnavais. Na oportunidade reunimos nossa família, que é bastante numerosa, e as amigas mais chegadas da aniversariante. Foi um momento rico em muitas emoções, muitos macauísmos e muitos macauenses. Posto neste blog a homenagem que fiz a Mamãe, pois sei que entre prisiacas e brexeiros tem muita gente que a conhece, e aqueles que não tiveram a oportunidade, certamente serão solidários a este momento em que festejamos a vida de uma matriarca macauense.

Bira, Nadete e Ivonete
Bira, Neuza e Vilma
Bira e Chico

Diante da tarefa a mim atribuída pelos meus irmãos de escrever algumas palavras sobre a nossa queridíssima homenageada, temi em incorrer no pecado da blasfêmia, pois para min, dissertar sobre minha mãe é discorrer sobre tema sagrado. Por outro lado não poderia me furtar de cumprir tão honrosa missão, portanto tentarei o impossível: expressar em poucas palavras o que permeia a minha imaginação, o meu coração e, quem sabe, a minha alma, do privilégio que têm sido ter a minha existência vinculada a um ser humano tão incomum.
Dona Nair de Victor, de dona Joaninha, de Seu Joca, de todos nós, faz da sua vida um sacrifício diário de amor ao próximo, num testemunho de abnegação exemplar. “Sacro Ofício”. Permitam-me esclarecer: sacro é aquilo que é sagrado e ofício é o dever, a obrigação. Abnegação é o fazer sem esperar nada em troca. Então entendamos: Dona Nair leva a vida no exercício sagrado de amar a tudo e a todos que a cercam, não só a nós seus filhos! O instinto talvez bastasse. Mas as plantas, os animais, aquelas que a serviram como domésticas, os amigos dos seus filhos, genros, noras, vizinhos, mendigos, enfim, toda forma de vida que for honrada pelo seu convívio.
Quem conhece de perto a sua casa sabe que ela conversa com suas plantas e como seus cuidados as fazem belas. Dos mimos com os seus bichinhos queridos, das filhas adotivas que lá por casa passaram e nela encontraram não uma patroa, mas uma segunda mãe, dos nossos amigos e amigas de infância e adolescência que recebiam os mesmos cuidados a nós dedicados, da sogra-mãe, da vizinha-mãe, da tia-mãe, da prima-mãe...
Trago a tona alguns episódios notáveis, os chamados atos concretos: a sua dedicação como filha aos nossos queridos avós Seu Victor e Dona Joana que viveram seus outonos com dignidade, cercados de todos os cuidados e tratados com o respeito que toda sociedade deveria dar aos seus idosos e que hoje a família que ela construiu sabe manter, mesmo quando o mundo lá fora nos diz o contrário. O exemplo maior de abnegação quando cuidou como nem toda filha cuidaria da nossa saudosa Maria Virgínia das Neves, que em nossa casa chegou para os serviços domésticos, foi eleita membro da família e entre nós envelheceu encontrando naquela que um dia fora sua patroa, mais que uma filha, mas com certeza uma mãe, como ela própria chegou a chamar Dona Nair nas sandices dos seus últimos dias. A solidariedade levada ao extremo ao dividir com suas amigas, vizinhas o seu próprio leite, o leite dos seus filhos, amamentando a cria que não era sua, apenas para a vida ser preservada. Nossos irmãos Paulo Élton, que Deus o tenha, Quincas, Wellington e a nossa prima-irmã Glória Maria que mamaram no mesmo peito que eu e meus irmãos de sangue. As adoções das sobrinhas tortas, posto ser Dona Nair filha única. Odete e Ivonete são para ela um misto de irmãs e filhas, e das primas como irmãs, Neuza, Áurea, Vanda e seu irmão de criação Manoel de Victor, a quem ela também dedica, sem dúvida alguma, a sua reconhecida fé em Deus, nas suas orações.
Seriam necessários mais oitenta anos para enumerarmos os seus ofícios sagrados, entretanto há ainda um papel que ela desempenha também exemplarmente: Esposa! Já passados bem mais que 50 anos a impressão que tenho é que os meus pais se amam hoje mais que antes e que se amarão mais e mais além dos limites da juventude e do tempo, sempre com a marca da sua abnegação, do seu cuidado, do seu zelo.
Finalmente não poderia deixar de me referir como seu filho legítimo. Não consigo encontrar palavras. Talvez porque de fato elas não existam. É como um milagre: inefável. Mas o milagre eu posso contar; ela não nos deu a luz apenas uma vez, Dona Nair dá a luz aos seus filhos todos os dias e noites da sua vida! Suas orações milagrosas nos protegem, sua fé nos ilumina e os seus seios sempre fartos que um dia nos alimentou de saúde física, ainda nos alimenta nos seus oitenta anos com a proteína do amor incondicional e a vitamina do afeto inconfundível e inesgotável.
Hoje diante dessa comunidade, renovamos as nossas esperanças na possibilidade de vivermos num mundo melhor, de sermos seres humanos melhores, pois temos o testemunho da nossa mãe, amiga, esposa, avó, prima-irmã, da infalibilidade do maior dos mandamentos: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.


Bira entre matriarcas
Bira, Zé e Ivanildo
Meio Milênio
Minha filha Luísa Pinheiro Lemos sendo apresentada a Vanda, Ivonete e Vilma por meu pai e minha mãe
Zé de Romão, Chico de Bilá, Nair de Victor, Ivanildo de Salvina
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(Gio): Parabéns a Dona Nair. Diga que mandei um abração.