segunda-feira, 17 de março de 2008

POESIA E COISA E TAL


Queridos blogueiros renitentes na construção de um meio de comunicação que gere união, Segue anexo o artigo Poesia e coisa e tal. Foi a público nesta segunda-feira, dia 17/03/2008, no vespertino O Jornal de Hoje. Renan
Para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei. Resignadamente falando, fosse só isso, estaria em boa conta. As intempéries que atingem 854 milhões de famintos, no mundo - 14 milhões, brasileiros -, prometem mais morte viva, em escala geométrica, daqui por diante. Neste artigo, pinto o quadro em letras, mas, sabe o leitor, ao vivo é ainda pior. Ao que me consta, não há solução à vista. A ínfima minoria plutocrata, monopolizadora da riqueza produzida pelo trabalho de todos os viventes da Terra, encarna espírito gozador, leviano, blasfemo. Casta que comunga na igreja do egoísmo fomenta o terrorismo e reza por quem lucra com a guerra. É a mesquinha legião do individualismo acima de tudo. Grupo que empunha manuais de religião, se auto-rotula religioso, mas não tem dó nem piedade dos bilhões de seres humanos escorraçados das condições dignas de vida. Leitor amigo, confesso, o neo-romântico exerce o livre arbítrio, o autodomínio, e se nega a ser partícipe em seita totalitarista. Nessa linha de raciocínio, escolheu viver, sobreviver, escapar, à margem da brutal ordem econômica e cultural dominante. Queria eu, leitor, fosse outra – construtora de generosidade e harmonia - a realidade.
Para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei. A máxima, atribuída ao ex-presidente Artur Bernardes (1922-1926), incorporou-se ao modernismo do Estado Novo varguista, imiscuiu-se na era democrática pós 1945, ganhou foros de lei de segurança nacional durante a ditadura militar inaugurada em 1964, manteve-se na Nova República de Tancredo Neves e José Sarney, aprofundou-se no Brasil Novo de Collor e Itamar, acumpliciou-se com o “avanço” de FHC, e renovou-se, camuflado, no Novo Brasil, pintado por lulistas e aderentes. Não sou niilista, pessimista, mas, convenha generoso leitor, é dose. Ao que parece, a política brasileira virou pântano de areia movediça. Nesse contexto, o gostoso populismo do PIB, desdenhosamente anunciado pelo Presidente Lula da Silva, não passa de involução verde, mistura de expropriação predatória dos recursos naturais, com consumismo desenfreado e absurda concentração de terra e de renda.
Como diz o petroleiro Luis Antônio, filho de Bibi, é impossível a vida sem amizade. Sem amigo o conhecimento estreita, a cooperação perde o sentido, o horizonte desaparece, ou melhor, fica preso ao próprio umbigo. Na filosofia de quem não tem amigo, desatender o outro é a regra. Este só existe se trouxer divisa, medalha, ouro, propriedade, dinheiro e demais bens materiais. O sujeito perde noção do tempo, emaranha-se em contrariedades e contratempos, atrai fluído nocivo, formula escuridão. Amigos, amigos, negócios à parte. Talvez essa tenha sido a lógica que impulsionou a felonia petista contra a senadora Heloísa Helena. Enamorado de si, o cristão intumesce de baboseira e fica inerte quanto à ação benévola. Cospe o rosto poeta, avilta o laço família, erige feiúra e abraça o vil metal. Prostitui alguém e se isola em mansão, sob proteção de muro alto, grades enormes, ferrolhos coloniais e cadeados ultrapassados.
Caro amigo leitor, no 14 de março, Dia Nacional da Poesia, congratulei-me com os cientistas do verso, no Palácio da Cultura, em Natal. Vi Crispiniano Neto, presidente da Fundação José Augusto, fazer discurso pré-eleitoral. Com a cantoria dos cantadores de viola, entrei no clima da paixão. Encontrei-me com artistas que moram no meu coração: Romildo Soares, Pedro Mendes, Geraldo Carvalho, Nelson Rebouças, Zé Martins, Zé Ferreira, Manassés Campos e Ana Terra. Congratulamo-nos, trocamos informação e palavras de incentivo. Ouvi o resistente soar poético da Sociedade dos Poetas Vivos, e me alegrei. Legal foi o encontro com o élan progressista do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal do Rio Grande do Norte, na pessoa de Janilson Sales de Carvalho. Apaixonado por Macau, vibrei, efusivo, com cada povo salgado que encontrava. Ainda sobrou tempo para um papo reminiscente com o casal de fé, Jonas e Socorro, que assistiam ao show de Chico César, acompanhando suas filhas. Adquiri mais cultura brasileira, ao falar com o professor Belchior. De Macau, o mestre Tião Maia informa que por lá também rolou cantoria no dia da poesia, por conta do gênio criador de Milton Tavares, Raminho Costa e José Johnson, na Praça Dinarte Mariz. Pra terminar, e deixar espaço para os outros, o cantor e compositor Chico César lembrou para não se impacientar. A monarquia vai ruir e o rei vai cair. A República um dia chegará.

Renan Ribeiro de Araújo – Advogado