terça-feira, 4 de março de 2008

UM NOVO MUNDO


No dia em que a aurora vier aureolada de margaridas, samambaias e orquídeas, será diferente. Nessa data, faça sol ou chuva, o ar estará mais puro, todos terão segurança alimentar e ninguém vai ingerir alimento transgênico. Um pé de buquê de noiva se destacará na paisagem, fazendo cintilar o farol que ilumina o tripé de confiança, fé e felicidade. As pessoas dão bom dia umas às outras; o soldado, atento, atua em prol da população; o torturador perde o tesão pela tortura; o professor vibra com a aula que dá, e o estudante mostra-se ávido por aprender. O operário não se faz de rogado, se toma de alegria e trabalha cantando. Meninos e meninas de dedo verde não trabalham. Brincam, ou estudam, e enchem de rosas as ruas da cidade. Homens e mulheres de terceira idade preparam o grande baile da noite. As linhas da fauna e da flora se alinham no caminho da solidariedade. Tudo funciona harmonicamente, com diálogo fraterno e debate acirrado. Em silenciosas bibliotecas, leitores viajam no incrível mundo das letras.
O leitor há de concordar que não tenho culpa se, em Macau, fiz o jardim de infância com dona Chaguinha Dantas e com a professora Francisca Arlete de Souza aprendi a ler. Enquanto “aquelas ondas devoravam árvores e pensamentos”, no alvorecer dos anos 1970, estava eu sendo partícipe de um clube de jogos infantis, que funcionou no quintal de seu Quinha, entrada pelo beco das galinhas. Acho que essa ação espontânea e autônoma de crianças, sem interferência – mas com o apoio – de adultos, marcou época, e foi, sem falsa modéstia, uma das ações lúdicas que mais merece alvíssaras. Saiba, generoso leitor, ao invés de morte, prefiro vida. Meu maior sonho é hastear a bandeira da paz. Estudantes secundaristas, no Atheneu, em Natal, início dos anos 1980, ganhamos eleição para a direção do órgão de defesa estudantil. Como éramos declaradamente opositores ao regime militar então vigente, tivemos de sobrepor inumeráveis percalços, antes e depois do processo eletivo. A maior escola estadual do Rio Grande do Norte, àquela época, viveu a efervescência da juventude participativa, auto-organizada, disposta a influir no retorno do país à normalidade democrática.
Das lides do Atheneu, tenho boas lembranças do diretor Edvan Secundo Lopes. A paciência e capacidade de construir no meio da turbulência. Edvan assumiu a direção da Escola Estadual Atheneu Norte-Rio-Grandense depois que três ou quatro diretores anteriores sucumbiram diante da crise provocada pelo embate entre o velho e o novo. Lembro o momento em que Edvan Secundo veio à sede estudantil apresentar-se como recente diretor do colégio, aberto ao diálogo e ao entendimento. Aquela atitude de um professor indicado pela Secretaria de Educação, em momento agitado e duvidoso, me fez sentir mais ainda o valor dos estudantes, o poder que haviam adquirido na pólis. Finalmente, um diretor com aptidão para assumir a função naquela circunstância. Edvan elogiou a organização discente e pediu que o ajudássemos na renovação da nossa instituição educacional. Daí em diante, tudo fluiu com sapiente conseqüência.
Os anos passaram, e aqui estamos. Ultimamente vejo coisas boas acontecerem, mesmo com altos e baixos. Cito algumas: a contribuição histórica dos programas “O Canto da Lira”, “Xeque-Mate” e “Memória Viva”, da TV Universitária. A intervenção dos artistas que resolvem deixar a clausura e mandam brasa. Em termos propriamente políticos, elogio a elegante administração do prefeito Carlos Eduardo Alves, em Natal. Em Macau, nunca vi um prefeito vencer duas eleições para poder assumir. Flávio Veras administra a cidade sob incongruente fogo cerrado da imprensa local, e ainda consegue manter apoio popular. Em dificuldade, realiza obras importantes, que os munícipes nunca viram anteriormente.
Caro leitor, cá na minha vontade de ver um mundo melhor, concordo com você quando afirma que precisamos repolitizar a política e reintroduzir na agenda pública um fazer que democratize a democracia. Para tanto, insisto, não se intimide, fale, fale o quanto puder.

Renan Ribeiro de Araújo – Advogado