quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Sobre o tempo...


Ontem, quando postei meu depoimento sobre As Almas, pensei: chega! Já escrevi muito, contei estórias, brinquei, publiquei fotos, revelei antigos segredos, acho que já estou enchendo o saco dos navegantes. Agora, apenas vou me deliciar revendo os filminhos postados por outras tantas gerações, esperando que outros contemporâneos apareçam e me ‘guardarei’ para o dia 08 de setembro, que se aproxima a passos largos.

Mas, qual nada, amigos! Não consigo me conter. Macau mexe tanto comigo e com minhas emoções que o meu desejo é participar de corpo inteiro, e sempre, dos bons e bem intencionados movimentos de amor por aquela Ilha. E assim, não percam a paciência comigo, vou continuar blogando, sempre que for tocada por um ‘vento leste’, trazendo aquele cheiro forte de maresia que cobre a ‘ponta do aterro’.

Confesso que essa onda de saudade que invadiu nossas ALMAS (sem duplo sentido) me faz sentir assim uma espécie de ‘Senhora do Tempo’. Sem pretensões e sem traumas, sinto-me centenária quando leio o depoimento dessa jovem ‘guapa’, Luciene, que lá do Canadá confessa o seu medo das ALMAS. Agora a pouco, Luciene, dei sonoras gargalhadas minha querida, que acabaram por assustar meus colegas de redação aqui na UFRN. Meu Deus! Venham ver, mostrei a todos, eu já assustei criancinhas!!! Mais uma para o meu vasto currículo...

Agora, canto com Raul Seixas: “Eu nasci há dez mil anos atrás...”, e sou mulher de muitas estórias. Andei na Sopa de Agripino, brinquei nas dunas da antiga costa com Naide Duarte, subi no Farol de Alagamar, namorei no Pocinho do Waikiki, dancei ao som do Sempre Alerta e um dia já contei todos os pecados ao santo Monsenhor Honório. Comprei querosene na carroça de Seu Martiniano, comi o cachorro quente de Marlene, conheci a Banca do Tabaco Cheiroso. Bodega de Zé Nedino. Injeção com João Neblina. A cura de Dona Dêja. Fui artista no circo de Sávio de Afonso Solino e tantas vezes subi na Tamarineira de Afonso Barros.

Fui Bandeirante, acompanhei Nossa Senhora dos Navegantes a bordo do rebocador Ricardo, acampei na Fazenda de Zé Coelho. Missas na Matriz. Ladainhas. Mês de Maio. Procissões. Vesti-me de papangu, assisti aos ensaios das ‘Brasinhas’, fundei as Almas, passei pelo Jardim, brinquei no Equipicão. Vi Tributino mutretando na pedra, comi tapioca e peixe frito nos barracões do mercado antigo. Aluna do Duque de Caxias, comi as cocadas de Uda, desfilei no 7 de Setembro. Passei pelo Colégio do Padre. Tomei as batidas de Tamarindo de Seu Edmilson, tomei cerveja com goiamum no bar de Chico de Moisés. Carapicu frito no Bar de Edson e Galegão, em Alagamar. Andei nas Quatro Bocas, lembro dos bacarás, carteado de Amiguinho, Alfredo Mulatinho. Entrevistei Angelita. A Difusora de Piauí, depois Chico de Paula.
Pirão de peixe na peixada de João da Carroça. Carne assada na Churrascaria Macau. A Maré Mansa. Conheci o Therpsicore. Ainda assisti filme no Cine Theatro Éden. Cinema São Luis. Cinema Dois Irmãos. Dancei no AARU, AABB, Lions Clube. Fui sócia do Unidos. Trabalhei no Centro Social Pio XI, toquei na Banda Marcial. Freqüentava a Casa das Freiras, mas também já subi na suspeitíssima Torre dos Bruxos no Solar de Amaro do Vale. Era freguesa da Boate de Getúlio Teixeira. Tomei cerveja com Nilton Oliveira no Bar Boa Sorte, joguei sinuca, comi os pastéis de Welington de Augusto Coutinho: “Só paga se comer” e “Se você tem educação demonstre, mas se o ambiente não é o seu, retire-se”. Farras no Barão. Noitada em Manoel Borja. Apostei as fichas, militei, fiz discurso em praça pública. Alegrias, tristezas, encantos e desencantos.


Por todas as histórias, pelas fotos inéditas, risadas, lembranças, brindo aos idealizadores do Reencontro e a todos os navegantes deste blog com a bela 'Oração ao Tempo". Digo que neste instante trago mais forte a certeza de que guardamos em nosso peito um amor tão grande pelas nossas raízes que nenhuma ‘diferença’ poderá prevalecer. Somos iguais nesse amor. E estou convencida que, de qualquer parte do mundo, é possível transformar esse amor em pura energia para um dia conduzir nossa amada Ilha ao seu Bom Destino.
Finalizo, revelando que ainda hoje, depois disso tudo, e de tanto mais, quando retorno, e sempre retorno, à sombra de uma acácia, por eu e Djane plantada, ainda me sinto criança e para sempre adolesço, na Praça da Conceição.



Com carinho,
Regina Barros

Caetano Veloso - Oração ao Tempo

És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho...
Tempo tempo tempo tempo, vou te fazer um pedido...
Tempo tempo tempo tempo...

Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos...
Tempo tempo tempo tempo, entro num acordo contigo...
Tempo tempo tempo tempo...

Por seres tão inventivo e pareceres contínuo,
Tempo tempo tempo tempo, és um dos deuses mais lindos...
Tempo tempo tempo tempo...

Que sejas ainda mais vivo no som do meu estribilho,
Tempo tempo tempo tempo: Ouve bem o que eu te digo
Tempo tempo tempo tempo...

Peço-te o prazer legítimo e o movimento preciso,
Tempo tempo tempo tempo, quando o tempo for propício...
Tempo tempo tempo tempo...

De modo que o meu espírito ganhe um brilho definido,
Tempo tempo tempo tempo, e eu espalhe benefícios...
Tempo tempo tempo tempo...

O que usaremos pra isso fica guardado em sigilo,
Tempo tempo tempo tempo, apenas contigo e migo...
Tempo tempo tempo tempo...

E quando eu tiver saído para fora do teu círculo,
Tempo tempo tempo tempo, não serei nem terás sido...
Tempo tempo tempo tempo...

Ainda assim acredito ser possível reunirmo-nos,
Tempo tempo tempo tempo, num outro nível de vínculo...
Tempo tempo tempo tempo...

Portanto peço-te aquilo e te ofereço elogios,
Tempo tempo tempo tempo, nas rimas do meu estilo...
Tempo tempo tempo tempo...

És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho...
Tempo tempo tempo tempo, vou te fazer um pedido...
Tempo tempo tempo tempo...