domingo, 10 de fevereiro de 2008

O CORDÃO DA FANTASIA VEIO PRÁ FICAR


Caríssimo companheiro Renan, sei que você não é de desistir, e tem dado muitas provas disso ao longo de sua trajetória pelos difíceis caminhos da militância e não será agora que isso vai acontecer. Quando o movimento em prol do Cordão da Fantasia teve início tive a ingenuidade de acreditar que seria uma causa a ser abraçada por todo macauense bom folião, independente de colorações partidárias, isso porque a festa do reencontro conseguiu esta proeza, mas observei que logo após o evento o conteúdo das nossa postagens passou a ter um caráter mais crítico e politizado o que fez com que priziacas virassem brecheiros e vice-versa. Sou da opinião que a liberdade de expressão é respeitada em nosso meio sem detrimento do espírito fraterno, que graças ao bom Deus, tem nos guiado nessa nossa experiência cibernética tão bem sucedida, mas depois que assuntos públicos referentes a gestão do nosso prefeito do alto-oeste veio a ordem do dia, era de se esperar algum tipo de retaliação. Sabemos que muitos governantes vêem as manifestações culturais como obras dos seus umbigos e não seria em Macau, e muito menos com nosso maravilhoso carnaval, que seria diferente.
Tirar o carnaval dos corredores, rasgar as mortalhas, valorizar o músico e o compositor local é devolver ao povo sua autonomia e sabemos todos que isso levará prejuízo aos cofres privados dos que faturam com o dinheiro público, com o agravante de dar visibilidade a um segmento da população macauense, principalmente nós que não temos endereço no Porto de Ama, que por termos a nossa sobrevivência garantida sem precisarmos das migalhas sobradas do banquete da viúva, temos a boa prática de botar a boca no trombone e com um misto de bom humor, senso crítico e muita irreverência cantarmos a nossa própria miséria social e política em ritmo de frevo. Desde sempre o carnaval é válvula de escape para os oprimidos: Reis e rainhas dos maracatus eram de fato linhagens reais de origem afro que sob a fantasia momesca mostrava sua cara a aristocracia decadente em plena luz do dia a despeito da repressão que poderia vir em forma de chibata. Hoje os tempos são outros, mas a prática em essência continua a mesma. As elites ficam satisfeitas em ver as massas embriagadas e obedientes, cantando vogais sem sentido, substituindo a cultura local por mercadoria enlatada de baixa qualidade e alto preço e não é de hoje.
A COBRA já cantava no início dos anos 90 uma paródia com aquela marcha: “... as águas vão rolar...” que tinha como refrão:
Se a milícia do prefeito me prender
Mas na quarta-feira me soltar
Eu volto a pisar na buraqueira
Eu quero ver pena voar
Isso por que a nossa paródia do ano denunciava falcatruas da administração da época e o mandatário em gestão colocou a polícia como nossa segurança particular durante todo o carnaval, o que só nos inspirou a escrever essa outra paródia. Trago isso a tona só para mostrar que nós que sempre festejamos junto com o povo que somos, tendo que arcarmos com nossas próprias despesas sem ficarmos de pires na mão esperando a esmola e a tutela dos que parasitam as tetas da viúva incomodamos e muito e não teremos nem daremos trégua.
O Cordão da Fantasia resgata o espírito libertário e irreverente do povo macauense e tem como característica o seu caráter suprapartidário e a sua vocação para a defesa da cultura local mas não pode, não deve e acredito que não vai sucumbir sob a chibata virtual dos sanguessugas desse faroeste salineiro.
Ubiratan Lemos