quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

A POLÍTICA E SEUS CONFLITOS


Em 2004, candidato a vereador em Natal, me dei conta da pluralidade comunitária da capital potiguar. Na pesca de gente, fui fundo em rua, beco, avenida, norte, sul, leste e oeste da cidade. Em que pese não ser marinheiro de primeira viagem, nunca tinha batido tanta calçada. Lutei com amor e por amor, sem desespero por voto, com dignidade, sem baixar o nível. Indo ao encontro, prestei atenção na potencialidade das pessoas, os entraves, a vida nos bairros, semelhanças e diferenças, a riqueza multicultural. Neo-romântico anticorrupção e pela distribuição de renda, não caí na graça dos ricos nem no gosto de máfia sindical. A tecnologia do PT local me fechou o acesso aos recursos do fundo partidário, mais de 23 milhões de reais, a nível nacional, naquele ano. Filosofia redutora de cidadania, farta em egoísmo e discriminação, aprofundou a desigualdade. Inicialmente reprimiu e reduziu, na reta final retirou totalmente minhas aparições no rádio e na televisão. Vivi esse vale-tudo do conflito intrapartidário. Puseram “cascas de bananas” camufladas no meu percurso. Aqui e acolá, escorreguei. Ainda bem que minguar não é o mesmo que aniquilar. Permanecem em mim a essência e o fenômeno, a singela e original atitude de ética participação ativa e consciente. No agônico caos dos destroços, no meio do escombro, germina a imperecível relíquia do bem fazer. A reminiscência petista que narrei lembra o politicamente incorreto, assédio moral, e avareza, esta, um dos sete pecados do capital. A atuação partidária deve ser prazerosa, não pode ser motivo de doença, não é meio de engordar nem emagrecer.
Também tenho janelas para o sol. Quando as abro dou de cara com lindas roseiras. A arte me cura a mágoa e o rancor. Retenho duas frases do calvo Chico Xavier: A gente precisa perdoar setenta vezes sete diariamente e Um tanto mais de paciência todos os dias. Na fé e na ciência ergo a cabeça, revitalizo o sonho e renovo a força de vontade. Não sou afeito a rosário de lamentações e conversa fiada me dá sono. Sou de ação. Acredito na realização. Ao produzir um artigo, evito qüiproquós. Mas, verdade seja dita, o brasileiro chora por suas idéias e planos impedidos de ir à prática. Sim, leitor, fiz das tripas coração e meti alegria no angustioso chinfrim do cotidiano. Deparei-me com bárbaros de paletó e gravata, manipulação das massas e barbárie descamisada. Não desanimei. Entendi-me com Nazareno Vieira, Pedro Mendes, Denílson Benevides, Geraldo Carvalho, Lau Terra, Romildo Soares, Cirleide Andrade, Os Grogs e com o mamulengueiro Eraldo Lins. Até uns seguranças-pagodeiros se achegaram. Assim, os eventos políticos foram regados a análise crítica, proposta, música ao vivo, cultura popular e gente. A candidata majoritária, deputada Fátima Bezerra, regateou sua presença e nunca compareceu. Assim, administrando a própria penúria e combatendo a astúcia que se acha dona do eleitor, construímos, de baixo pra cima, uma política que resistiu sem capitular.
Apenas 30% de Natal são saneados e, conforme palavras de Le Monde diplomatique BRASIL, nada menos que 70% das internações na rede pública de saúde estão relacionadas com doenças transmitidas pela água. Dados e estatísticas existem aos montes, mas vamos mudar o papo e falar outras nuanças. Não vou muito a salão de beleza, contudo gosto da auto-estima que emana desse ambiente. O leitor sabe, Natal tem muitas casas de estética corporal. Por falar nisso, apesar do desleixo, talvez pela não predisposição genética à calvície, meus fios de cabelo estão em plena fase ativa, firmíssimos. E olhe que não sou comilão de gengibre, nozes e certos cogumelos. Amigos maduros afirmam ser eu um homem de calibre novo. Se for dos carecas que as mulheres mais gostam, não há perigo seja eu maioral entre elas. Imagine leitor o que vem a ser passar dos quarenta e cinco anos de idade. Daqui em diante ninguém é mais um leve e colorido bambambã. Em nada nem em canto nenhum sou maioral. Alguns até dizem que sou isso e aquilo, pra mais, pra menos, mas é tudo ficção. Sou, na verdade, simplesmente eu. Ocasiões acerto, outras erro, vezes ganho, vezes perco. Tenho alguma qualificação, experiência, estudo, escolaridade, graduação acadêmica, mas não sou sabichão. Coleciono elogios e críticas. O leitor sabe que ninguém é de ferro, ninguém gosta de ser desprezado, não há quem saiba tudo e quem não precise do outro, da compreensão, afeto e solidariedade.
Há sempre muito a aprender. Aprender paulatinamente. Refletir sobre feito e resultado, causa e efeito. Observar fazeres, falares, escritas, práticas e discursos. Livro, jornal, revista, tenho-os em grande consideração. Com eles posso estar só, sem ficar sozinho. Não me apressam, nada cobram. Caso não os pegue, não os abra, não os leia, nada reclamam e se reclamam não sei, não consigo ouvir. Os meios de comunicação são servidores que só aciono se quiser, e com senso crítico. Exercem influência sobre mim, mas procuro manter a isenção. O dito, escrito ou falado, pode até me emocionar, mas não tem como dar ordens ao meu corpo. Não atrito com texto. O entrevero que tento apaziguar é o de mim com meu corpo que pede parcimônia. Corpo meu, veículo físico, invólucro do espírito, que Deus nos ajude a transpor os obstáculos que a politicalha nos impõe, nestes tempos de febre amarela. Me segura senão eu caio. Vou parando por aqui, é carnaval. Os blocos da “lama preta”, “dos remadores” e “indefecáveis” mandaram me chamar. Eufórico, fantasiado de macauísmo, pulo de bico no festivo entrudo macauense.

Renan Ribeiro de Araújo – Advogado