sábado, 27 de outubro de 2007

Um convite à lembrança


Estou escrevendo porque a mensagem de Kinkas me fez lembrar que tem coisas da minha infância que gostaria de lembrar.

Pode parecer estranho para alguns, mas tenho uma memória péssima (acho até que é um defeito). Aliás, essa é uma das razões porque faço análise há vários anos. E, esclareço que tenho a impressão de que nunca sairei daquele divã, mesmo porque para mim tem sido maravilhoso, apesar de doloroso, descobrir-me através de minhas próprias palavras, que às vezes são ditas sem sentidos para adquirirem todos os sentidos que faltavam. Um quebra-cabeças de infinitas peças...

Enfim, eu queria lembrar daquela época em que as pessoas juntavam os pacotes de CAFÉ (NÃO LEMBRO O NOME) para entrar no CINEMA SÃO LUIS. Um montão de gente vivia juntando e contando os pacotes, para depois ir lá e trocar por um ingresso. Mas, não lembro se era ingresso para o filme ou se era para as manhãs alegres.

Eu lembro também que eu nem precisava juntar, pois meu pai administrava o Cinema São Luis e nunca pagava a entrada (que privilégio, heim!!!).

Eu não acompanhei muito bem as manhãs alegres (ou não lembro, sei lá)... Eu lembro do sucesso de Naide, por exemplo. Ela era quase minha vizinha e cantava no palco bem pequenininha. Só não lembro se minha lembrança dela era no Cinema ou naquele outro lugar (que não lembro o nome, acho que era FEATRA), que ficava onde hoje é o Teatro da Petrobrás.

Lembro do filme MEU PÉ DE LARANJA LIMA e das pessoas saindo de olhos vermelhos de tanto chorar. Lembro da calçada da casa de Vovó Libia, onde a gente ficava sentado nas cadeiras, "lavando um fresquinho" antes de dormir e aproveitava para ver muitas pessoas passando todos os dias para assistirem a um filme. E as conversas? Sempre tinha um ou outro que parava pra conversar. Depois seguiam pra lá,
Nossa! Como as pessoas em Macau tinham o hábito de ir ao cinema!!!. Às vezes, faziam fila atrás daquela grade para comprar os ingressos.

No início, às 7 da noite ligavam o alto-falante no alto da marquise e daquela "boca" saiam muitas músicas maravilhosas de ouvir. Quando chegavam 8 horas, silenciava o alto-falante e a gente ouvia "DUMMMM...DUMMMM.... DUMMM...". Acho que eram uns cinco DUMMM's, mas não lembro muito bem. Lembro somente que a cada DUMMM o meu coração vibrava. Era o sinal de que o filme ía começar . Em seguida, lembro que escutava ao longe a música do jornal do futebol e depois, o silêncio... Era o filme...

Lá pelas 10 da noite, quando acabava a sessão, saia todo mundo junto e em várias direções. A maioria saia a pé, mas sempre tinha um montão de bicicletas estacionadas alí na frente.

Afff! Lembrei agora que tenho um monte de lembranças desse Cinema, das brincadeiras, do Neguim Dedé de Maura rebobinando os filmes como aquele italiano de "CINEMA PARADISE", do pé de azeitona roxa lá nos fundos que deixava o chão pretinho (ou seria roxinho?). E.... depois eu conto outra...

Agora eu ainda quero dizer que outro dia entrei na Clinica de Dr. Wilson, naquele prédio meio chegado a "feioso" que transformou o cinema das minhas lembranças. Que tristeza! E, por outro lado, que surpresa!!! Vocês não imaginam, mas lá atrás ainda existe o palco daquele jeitiiinho de antes, mas todo estragado. Fiquei sem fôlego e com uma vontade de chorar ao ver o que perdemos.

As vezes, me dá uma agonia no juizo ao pensar que estamos nos perdendo ao perdermos nossas histórias, nossas tradições, nossa memória. A aí, me vem uma coragem (ou seria pretensão?) de achar que preciso salvar alguma coisa... Mas, de uma coisa eu sei, nem que sejam as minhas memórias perdidas, eu vou salvar... Essa é a minha fé.

Abs, Giovana

Em Natal, não sei que horas,

mas que estão inspiradas... estão. Hahaha!!!