segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O "CAUSO" DO BESOURO (SÓ EM MACAU MESMO...)


1984 foi um ano glorioso para os Bruxos, super campeão do carnaval. Super campeão porque, segundo a Comissão Julgadora Oficial, ganhou em todos os itens avaliados, e também porque a multidão aplaudiu a decisão. Saiu bombando, como se diz hoje. Um primor de alegoria, fantasias lindas, apresentação impecável, com coreografias ensaiadas exaustivamente, o barril de cachaça com limão cheinho, cheinho. Sucesso de público e de crítica, vitória com direito a cobertura jornalística de Bosco Afonso em sua coluna no Diário de Natal.
A direção do bloco estabelecia, todos os anos, um modelo de fantasia, com o qual desfilava a maioria dos participantes, mas todos tinham a liberdade de sair com a fantasia que bem entendesse, era só querer, eram os chamados “destaques”. No frigir dos ovos, acabava que praticamente a metade dos componentes saía como destaque, e era uma beleza!,
Tomavam parte naquela festa muitas modalidades de seres “bruxos”, como fantasmas, caveiras, mágicos, vampiros, gnomos, carrascos (vejam só...), e até singelas fadinhas de vestido cor-de-rosa e varinha de condão (como saiu Rejane de seu Raul nesse mesmo ano de 84...bons tempos, heim, Rejane?). Bom, mas a história que quero relatar é a seguinte: Ninpha, que na época era esposa de Tião Maia, era uma das bruxinhas mais aplicadas na elaboração da fantasia – a dela ela mesma confeccionava, todos os anos, sempre reciclando coisas já usadas em carnavais anteriores. Ainda não havia sido cunhado o termo customizar, em voga hoje em dia, mas era isso que Nimpha fazia, e bem. Nesse ano, a fantasia dela tinha de original os longos cabelos feitos de corda desfiada (a maioria dos componentes usava cabelos de ráfia) que pendiam do chapelão de bruxa, um tanto longos e cheios demais, muito abaixo da cintura, talvez até um pouco desproporcionais para a sua esbelta silhueta, eu diria...
Já era noite, estava Nimpha muito animada, o bloco passando em frente ao Quartel da Polícia, na pista, eis que a mulher começa a dar uns pinotes esquisitos, acompanhados de batidas numa das próprias orelhas. Ela pulava, batia com as mãos na orelha, abaixando a cabeça como quando a pessoa está tentando tirar água do ouvido, e gritava, tudo ao mesmo tempo. Isso, imagine a cena, em meio à balbúrdia carnavalesca, o barril de cachaça com limão já pela metade....Não aparecia um santo – ou bruxo - que acudisse a pobre. Aí ela começou a chamar: “meu marido, meu marido...cadê meu marido?” O marido em questão, atarefadíssimo com a organização do bloco (é verdade, havia muito senso de responsabilidade na condução do bloco pelas ruas, na tentativa de evitar os inevitáveis falatórios), finalmente apareceu, e Nimpha, agoniada, tadinha, nesse momento já rodeada de seres os mais estranhos, cada qual com seu copo de caipirinha na mão, não sei nem como conseguiu dizer que alguma coisa tinha entrado no ouvido dela, e estava mexendo e zumbindo muuuito lá dentro. Não lembro bem, mas certamente algum dos presentes deve ter tentado uma mágica ou bruxaria para resolver a questão. Como não havia jeito da coisa sair, a solução foi o pronto-socorro. A festa dos dois, nessa noite, terminou aí. Mais tarde, soubemos do diagnóstico: um besouro subiu pelas longas madeixas de corda e, sem cerimônia, adentrou o ouvido da estilosa Nimpha. Depois dessa, não há registros de que outra bruxa ou bruxo tenha se aventurado a usar cabelos de corda. Agora, esse fato é bom mesmo quando relatado por Jomar (o gordinho, da rua João Teixeira) ou Júnior Freire da rua do Cruzeiro, bruxos das antigas...
Portanto, os foliões e foliãs que pretendem sair como bruxos no Cordão da Fantasia (atenção, Silvinha Capa!), muito cuidado na escolha da cabeleira. Vai que aquele besouro apareça outra vez...

Sheila


(Gio): Bem-vinda Sheila. Que bom tê-la por aqui. Manda uma foto da próxima vez.